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Seguro Rural e Mudanças Climáticas: O Impacto do Aquecimento Global nos Custos do Setor

  • rodrigosimoes1
  • Mar 24
  • 6 min read

Updated: Mar 25

Quando se discute mudanças climáticas e sustentabilidade na produção agrícola, frequentemente se levanta a questão das reais consequências do aquecimento global na economia e da forma de mensurar esse impacto. O aquecimento global, caracterizado pelo aumento das temperaturas médias da Terra, tem provocado alterações drásticas nos padrões climáticos, afetando a precipitação, a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes. Esses fenômenos não apenas impactam a qualidade e a quantidade das colheitas, mas também criam um cenário de incerteza que pode reverberar em toda a cadeia produtiva agrícola, desde a plantação até a comercialização. Para ilustrar como as mudanças climáticas afetam significativamente as finanças do agronegócio, analisaremos o impacto no setor de seguros e resseguros.


O Mercado de Seguro Rural no Brasil


No Brasil, observa-se uma sazonalidade no mercado do seguro rural em função da janela de plantio do binômio soja-milho nas regiões Centro-Oeste e Sul, que são responsáveis por mais de 62% da contratação do seguro rural no país, de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Essas duas regiões, que se destacam pela sua vasta extensão de terras cultiváveis e pela adoção de tecnologias avançadas de cultivo, representaram aproximadamente 74% da produção de soja e 77% da produção de milho nas últimas cinco safras, conforme dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). A soja e o milho, além de serem fundamentais para a alimentação humana e animal, também são insumos essenciais para diversas indústrias, incluindo a de biocombustíveis e a farmacêutica. Ademais, juntas, essas culturas são responsáveis por cercad de 56% do valor da produção agrícola nacional, totalizando mais de R$ 450 bilhões, conforme dados do IBGE (2023), ilustrados no gráfico 1.


Gráfico 1

Fonte: Produção Agropecuária, IBGE¹
Fonte: Produção Agropecuária, IBGE¹

Padrões de Prêmios e Sinistralidade


A análise da evolução dos prêmios e sinistros do seguro rural no Brasil nos últimos cinco anos, com base nos dados da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), é possível observar um padrão notável de comportamento, que reflete as dinâmicas do setor agrícola e as condições climáticas que impactam diretamente a produção rural. Os dados contidos no gráfico 2 revelam picos de aumento dos prêmios no terceiro trimestre de cada ano, um período que coincide com o plantio da safra, quando os agricultores buscam proteger seus investimentos iniciais. Esse aumento é impulsionado pela crescente necessidade dos produtores de se protegerem contra riscos, além de fatores como o aumento dos custos de produção e a busca por garantir a sustentabilidade financeira em caso de imprevistos.


Por outro lado, os picos de sinistralidade ocorrem no primeiro trimestre de cada ano, que é o período de colheita. Durante esse tempo, os agricultores enfrentam uma série de riscos, incluindo eventos climáticos adversos, pragas e doenças que podem afetar a qualidade e a quantidade da produção. No primeiro trimestre de 2022, especificamente, houve um aumento significativo e alarmante no pagamento de sinistros, que atingiu mais de quatro vezes o valor médio do trimestre em comparação com os outros anos, superando o patamar de R$ 6 bilhões.


Esse aumento na sinistralidade teve consequências diretas no mercado de seguros, resultando em uma elevação média de 67% nos valores dos prêmios de seguro nos anos subsequentes, de 2022 a 2024. Essa elevação foi em relação à média dos anos anteriores, de 2020 a 2021, refletindo a necessidade das seguradoras de ajustar seus preços para cobrir os riscos elevados que estavam se materializando. Mesmo com a sinistralidade retornando aos níveis médios do período após o pico de 2022, os prêmios de seguro permaneceram nos níveis elevados observados após esse ano. Essa situação indica uma mudança estrutural no mercado de seguros rurais, onde os agricultores precisam se adaptar a um novo cenário de custos mais altos, mesmo em períodos de menor sinistralidade.


Gráfico 2

Fonte: Painel de Inteligência SUSEP²
Fonte: Painel de Inteligência SUSEP²


O Impacto das Secas Prolongadas no Aumento da Sinistralidade


A causa principal relacionada a esta sinistralidade foi, sem dúvida, a ocorrência de secas severas e prolongadas durante a safra de 2021-2022, que afetaram de maneira significativa as culturas de soja e milho. Essas condições climáticas adversas, particularmente nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, resultaram em uma diminuição drástica na produtividade agrícola, levando a perdas financeiras substanciais para os produtores rurais. De acordo com os dados do Monitor de Secas, da Agência Nacional de Águas (Ana), que foram destacados no quadro 1, a situação se mostrou alarmante, refletindo não apenas na quantidade de grãos produzidos, mas também nas condições econômicas das famílias que dependem da agricultura como sua principal fonte de renda.


A região Sul, que historicamente tem sido um dos principais polos de produção agrícola do país, foi a mais afetada por essa crise hídrica. As secas prolongadas comprometeram não apenas o cultivo da soja, que é uma das principais commodities agrícolas do Brasil, mas também o milho, que é essencial tanto para consumo interno quanto para exportação. Os dados mostram que a região recebeu cerca de R$ 4 bilhões em indenizações devido aos sinistros provocados pelas perdas causadas pela falta de chuvas, evidenciando a gravidade da situação e o impacto econômico que isso gerou.


Quadro 1

Fonte: Monitor de Secas, Agência Nacional de Águas (ANA)³
Fonte: Monitor de Secas, Agência Nacional de Águas (ANA)³


Aquecimento Global no Brasil e Riscos Climáticos


Essas condições de extremos climáticos são consequência direta do aumento médio da temperatura global, um fenômeno que tem gerado preocupações em diversas esferas, incluindo ambiental, social e econômica. O gráfico 3, elaborado pela iniciativa Show Your Stripes da Universidade de Reading, na Inglaterra, fornece uma representação visual clara e impactante do aumento da temperatura média no Brasil a partir dos anos 2000. Essa representação gráfica não apenas ilustra a tendência crescente das temperaturas, mas também enfatiza a gravidade da situação ao longo das últimas décadas.


Desde 2015, a aceleração do aumento das temperaturas tem sido alarmante, refletindo uma mudança significativa nos padrões climáticos que afetam não apenas o Brasil, mas também todo o planeta. Em 2024, o Brasil alcançou o limite de aquecimento de 1,5ºC, um marco que foi definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma meta crucial a não ser superada até o ano de 2100, conforme estabelecido no Acordo de Paris. Esse limite é considerado um ponto crítico, pois ultrapassá-lo pode resultar em consequências devastadoras, como o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, incluindo secas severas, inundações, e tempestades mais intensas.


Gráfico 3

Fonte: Show Your Stripes, University of Reading, UK⁴
Fonte: Show Your Stripes, University of Reading, UK⁴

O Crescente Risco de Eventos Climáticos Extremos


Os riscos associados ao aumento médio da temperatura podem ser analisados em detalhes por meio do Diagrama de Brasas, apresentado na Figura 1, elaborado pelo IPCC em seu último relatório (AR6). Este diagrama é uma ferramenta visual fundamental que permite compreender os diferentes níveis de risco associados ao aumento da temperatura global. Nele, é possível identificar que, ao alcançar a temperatura de 1,5ºC, há um alto risco de exposição a eventos climáticos extremos, conforme indicado na barra RFC2. Essa elevação de temperatura não é apenas um número; representa um ponto crítico em que as consequências das mudanças climáticas se tornam mais severas e abrangentes.


O relatório do IPCC também aponta riscos regionais críticos, destacando que, nas Américas Central e do Sul, as secas frequentes e severas representam uma ameaça significativa à segurança alimentar. Essa região é particularmente vulnerável devido à ocorrência frequente de secas extremas, que não apenas afetam a produção agrícola, mas também têm um impacto direto na disponibilidade de água potável e na saúde das populações locais. As secas severas podem levar à diminuição da produtividade das culturas, resultando em escassez de alimentos e, consequentemente, em um aumento dos preços dos alimentos, o que pode agravar a insegurança alimentar e a pobreza.


Além disso, o relatório menciona que o aumento da temperatura pode intensificar outros fenômenos climáticos, como a ocorrência de tempestades mais fortes e inundações, que também afetam a agricultura e a infraestrutura nas Américas Central e do Sul. A interconexão entre esses riscos climáticos e sociais é complexa, pois a degradação ambiental e a mudança no clima podem exacerbar as desigualdades existentes, tornando as comunidades mais vulneráveis ainda mais suscetíveis a crises alimentares e de água.


Fonte: Sexto Relatório de Avaliação (AR6) , IPCC⁵
Fonte: Sexto Relatório de Avaliação (AR6) , IPCC⁵

A Necessidade de Adaptação e Mitigação


Diante desse cenário, torna-se evidente a relação entre o aumento das temperaturas, as secas prolongadas e o crescimento da sinistralidade no seguro rural. A necessidade de adaptação dos produtores e das seguradoras a esse novo panorama é cada vez mais urgente. O fortalecimento de políticas públicas, a ampliação de práticas agrícolas resilientes e o investimento em tecnologias voltadas à mitigação dos impactos climáticos são estratégias essenciais para garantir a sustentabilidade do setor agrícola e a estabilidade financeira do seguro rural no Brasil.


Fique atendo aos próximos conteúdos para entender melhor os impactos do aquecimento global na agricultura e como toda a cadeia do agronegócio pode se adaptar a esse novo cenário. Descubra soluções inovadoras e estratégias eficazes para garantir a sustentabilidade do setor agrícola.


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